Artigo: “As mangueiras de Jáder de Carvalho e Rosa da Fonseca”, por Tarcísio Matos

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No aniversário de Rosa da Fonseca, a lembrança dos que fazem a Fundação Sintaf à mulher de luta por dignidade humana e sua singeleza nos cuidados com a natureza.

As mangueiras de Jáder de Carvalho e Rosa da Fonseca

“Da manga rosa eu quero o gosto e o sumo…”
Alceu Valença

Por Tarcísio Matos

Pai do jornalista, advogado, professor e ex-senador Cid Sabóia Carvalho, ele foi igualmente jornalista, advogado, professor e também um grande escritor. Quixadaense corajoso, intelectual reconhecido já aos 20 anos de idade, legou-nos substanciosa obra literária. Eleito Príncipe dos Poetas Cearenses em 1974, escreveu “Terra Bárbara”, em 1965, um de seus livros mais afamados. Jáder Moreira de Carvalho (Jáder de Carvalho), de quem falamos, condenado pelo Estado Novo por divulgar ideias marxistas, tem tudo a ver com a Fundação Sintaf.

Já faz algum tempo, morava ele com a família (esposa Margarida Sabóia de Carvalho, contista, e sete filhos) na Rua Agapito dos Santos, quase em frente ao Sintaf, região fronteiriça do Centro de Fortaleza com o bairro de Jacarecanga. O quintal de casa tinha fundo correspondente com a residência onde hoje está instalada a Fundação Sintaf, na Rua Padre Mororó. Terreno comprido, bem se vê, apenas estreito, com grande variedade de fruteiras – pitombeira, mangueiras, bananeiras, sapotizeiro… Havia ali, ainda, um catavento para puxar a água de um cacimbão, dispositivo mais tarde comprado por um amigo.

Até que o terreno foi dividido – a parte que alberga a casa da Agapito, para um lado, e a que ficou com a Fundação, na Padre Mororó, para o outro, pertencente, a partir de um certo período, ao movimento Crítica Radical, grupo encabeçado pela professora Rosa Fonseca, que rompeu com a política e as práticas de partidos e entidades “que querem administrar a crise de um ‘sistema capitalista fracassado’”. O imóvel, tem já 12 anos, foi colocado à venda. O primeiro interessado na aquisição, uma construtora que planejava subir um bloco de apartamentos, tendo, para tanto, que derrubar o vetusto mangueiral – das doces mangas rosas – do Dr. Jáder.

Rosa da Fonseca, quixadaense também corajosa, ao saber do triste fim das plantas – ainda hoje testemunhas de um tempo em que a cidade amada era povoada de sítios –, tratou de dar prioridade de venda ao Sintaf, que sabia interessado na aquisição, e ali abrigar a sua Fundação. O Sindicato tinha à frente o então diretor de Organização Liduíno Lopes de Brito, que convocou a diretoria para tratar especialmente do caso. Recebeu o “ok” para a compra. Rosa, no entanto, impunha condição (louvável condição): sempre que precisasse do espaço para reuniões, a Crítica Radical pudesse utilizá-lo. Imóvel comprado. Mangueiras preservadas. Não raro é ver a Rosa à sombra das mangueiras, reunida com companheiras e companheiros.

Liduíno, diretor do Sintaf em 2010, autorizou a compra do imóvel e ele mesmo, em 2022, na direção geral da Fundação, recebe-o, em comodato, pelas mãos do agora diretor de Organização Carlos Brasil, do Sintaf, como que acrescentando ao poema do Alceu que, além do sumo, a sombra é também parte do enredo agradável à natureza preservada, cuidado que impulsiona a Fundação Sintaf nesses tempos novos, desafiadores.

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