Na tarde desta segunda-feira (28/8), a Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) realizou, por iniciativa do deputado De Assis Diniz (PT), em articulação com o Sindicato dos Fazendários do Ceará (Sintaf) e a Fundação Sintaf, a audiência pública “Discussão e resgate da memória histórica da heroína Bárbara de Alencar”. O evento reuniu parlamentares, pesquisadores, alunos, artistas e sindicalistas imbuídos em valorizar a figura histórica de Bárbara de Alencar e os valores que ela representa.
Além do deputado estadual De Assis Diniz, que presidiu a audiência pública, estiveram presentes à mesa o deputado estadual Renato Roseno (Psol); a secretária de Proteção Social do Estado (SPS), Onélia Santana; o prefeito do Crato, Zé Ailton Brasil; o vice-prefeito do Crato, André Barreto; o vereador do Crato, Pedro Lobo (PT); Cristiane Buco, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); o Diretor de Organização do Sintaf, Carlos Brasil; o diretor da Fundação Sintaf, Kléber Silveira; a diretora da Estação de Cultura Ecopedagógica, Maria Magnolia; a professora e pesquisadora da Estação de Cultura Ecopedagógica, Raimunda Máxima.
Conforme destacou o deputado De Assis Diniz, Bárbara de Alencar nasceu no município de Exu, em Pernambuco, e trouxe para o Ceará todo o seu espírito revolucionário. “Ela fincou bandeiras na cidade do Crato e foi ousada ao conclamar a República 70 anos antes. Foi a primeira presa política do país e realizou feitos inimagináveis para uma mulher de sua época. Por isso, quando procurado pelo Sintaf e a Fundação Sintaf, de imediato assumi o compromisso de trazer esse debate para a nossa casa legislativa, no intuito de resgatar os valores de Bárbara de Alencar e restabelecer o legado desta revolucionária tão importante para todos nós”, ressaltou.
A secretária da Proteção Social do Estado, Onélia Santana, evidenciou o legado da heroína para a história do Crato, do Ceará e do Brasil. “Além de uma mulher aguerrida, ela teve seus filhos e soube educá-los na construção de um mundo melhor. Por isso, tenho orgulho de ter minha origem naquela região onde dona Bárbara iniciou sua militância. Temos muito a aprender e a nos inspirar nela diariamente”, afirmou.
Em sua fala, o diretor de Organização do Sintaf, Carlos Brasil, agradeceu ao deputado De Assis Diniz por colocar o seu mandato a serviço dos servidores estaduais. “O Sindicato nasceu logo após a redemocratização do país e logo completará 35 anos. Criamos e apoiamos a Fundação Sintaf e sempre estivemos atentos às causa sociais – e não poderia ser diferente com esse movimento de resgate da memória histórica da heroína Bárbara de Alencar. Falar de Bárbara é falar de resistência, de Nordeste; diz muito da vida sindical, da luta e resistência por um mundo melhor. Falou-se muito das qualidades de Bárbara, mas também é preciso falar do preço que ela pagou – um preço muito alto”, sublinhou.
Emocionada, a diretora da Estação de Cultura Ecopedagógica, Maria Magnólia, afirmou que não imaginava chegar ali. “Sou filha de Itaguá (distrito de Campos Sales), onde Bárbara foi sepultada. Nasci e me criei lá e muito pouco ouvíamos falar dela. Temos muito a agradecer ao Sintaf, pois desde o início do projeto lançamos dois documentários patrocinados pelo Sindicato, lançados na praça. Bárbara de Alencar lutou por nós e hoje estamos aqui. Por isso, queremos a criação de um museu e o resgate, a preservação e a divulgação da história de Bárbara para o mundo. Com isso, queremos movimentar toda a região com uma rota turística, cultural e religiosa. Nós temos potencial para isso”, garantiu a diretora.
O diretor da Fundação Sintaf, Kleber Silveira, frisou que a entidade é mantida pelo Sindicato com a consciência dos fazendários de que, além da missão de carrear recursos para financiar as políticas públicas do estado do Ceará, é fundamental ter um braço social e cultural na sociedade.
Por sua vez, a professora e pesquisadora da Estação de Cultura Ecopedagógica, Raimunda Máxima, não conseguiu traduzir em palavras o seu sentimento. Ela contou que aprendeu a ler em casa, com professores contratados pelo pai. O livro, para ela, era uma janela para o mundo lá fora. “E eu fui descobrindo que no livro daquela época não aparecia a figura da mulher. Somente na faculdade fui descobrir a ausência da mulher na história, pela influência do positivismo, e foi nesse momento que resolvi estudar sobre Bárbara de Alencar, principalmente pela proximidade. Ela foi uma mulher que quebrou os paradigmas da época. Ela levantou a bandeira do feminismo sem saber que estava fazendo isso. Nosso intuito é resgatar essa memória, trazê-la como espelho, modelo, símbolo da coragem da mulher brasileira”, afirmou.
Zé Ailton Brasil, prefeito do Crato, elogiou a coragem e determinação de Bárbara, que tornou-se uma revolucionária há 200 anos atrás. “Dentro de uma missa lotada, ela subiu ali e proclamou a república e a independência. É de um gigantismo que não temos noção. Precisamos evoluir nessa discussão sobre Bárbara, rever os locais onde ela nasceu e viveu, reconstruir sua casa, deixar esse legado para as gerações futuras”, disse o prefeito, evidenciando que Bárbara terá destaque no bicentenário da Confederação do Equador.
O deputado Renato Roseno salientou o sentimento revolucionário que há 200 anos fez com que cearenses se lançassem na ousadia de libertar o Ceará e o Brasil do que era o jugo portugês à época. “Eles eram, a seu tempo, revolucionários, liberais e republicanos, pois não só queriam se separar do império, mas sobretudo superar a forma imperial de governo – e o enfrentamento das injustiças”, acentuou. “Temos, no Brasil, poucas mulheres no século XVIII que tiveram o protagonismo político que Bárbara de Alencar teve. E que exatamente pela lógica patriarcal, misógena e machista não ganhou as páginas da historiografia oficial como deveria. Por isso é muito importante esse movimento de afirmação histórica da Bárbara”.
Dentre os encaminhamentos da audiência pública estão a construção do memorial Bárbara de Alencar no Crato e em Itaguá, distrito de Campos Sales, com a construção de estátuas da heroína nacional, além da criação de uma rota turística ligando Exu, Crato, Campos Sales e Fortaleza, denominada “Os caminhos de Bárbara” ou “Circuito revolucionário Bárbara de Alencar”. Também foi evidenciada a intenção de reconstruir a face verdadeira de Bárbara de Alencar, a partir de pesquisas históricas, bem como a sua casa. Também deverá ser instituído o dia 28 de agosto como o dia de Bárbara de Alencar, já que a data marca o seu falecimento.
Texto e fotos: Sintaf Ceará