O Pajeú não morreu! Seus afluentes subiram aos céus, e quando bem querem, despejam suas águas em seu leito e foz soterrados, para testemunho de um crime ambiental praticado por um modelo civilizatório antropocêntrico. Sem descanso final no cemitério atlântico, o riacho que pariu Fortaleza junta-se à luta de resistência das minorias oprimidas. Por nós atávicos e ativos de pertencimento telúrico, ecossistêmico, por direitos inabdicáveis de cidadania ecológica, na Era Ecológica, o Pajeú não se entrega.
O Pajeú é cidadão imortal! Fortaleza nasceu vila em 1726, criança descalça a correr em areias soltas, seguindo as margens do rio de água doce, arrostando África e Europa no espelho do mar salgado. A “loura desposada do sol” nutriu-se nas tetas do fecundo Pajeú. Recuperar a foz deste riacho, passível de vontade política, reúne apelos e razões de caráter histórico, ambiental, social, econômico, estético e afetivo. O berço histórico de Fortaleza merece um olhar de cartão postal. Identitariamente emblemático!
A histórica comunidade Poço da Draga, guardiã da foz do Pajeú, exemplo de resistência, ainda espera do Poder Público moradia digna, urbanização e saneamento. A recuperação deste ecossistema socioambiental e histórico-cultural, dando-lhe graça ao que já traz do berço, é de interesse difuso, universal, podendo acordar um sentimento de orgulho coletivo do ser fortalezense, sabendo sua origem, conhecendo sua história.
O Estado socioambiental ideologicamente previsto na Constituição de 88 favorece tal empreendimento, a ser garantido em orçamento público das três esferas de governo. O Palácio do Bispo e o Mercado Central são palcos onde o Pajeú canta sua dor. Um apelo à esfera pública e privada, por uma ação à altura da sua importância. Talvez não haja melhor presente para Fortaleza, por ocasião do seu aniversário de 300 anos, em 2026, do que entregar-lhe o registro de seu nascimento. A Fundação Sintaf abre a campanha: Pajeú Redivivo, levantando a bandeira de revitalização da Foz do Rio Pajeú, tendo como guardiã a Comunidade do Poço da Draga.
Luiz Carlos Diógenes é diretor de Cidadania, Inclusão Social e Cultura da Fundação Sintaf